Confissões de um Órfão do Cinturão da Ferrugem (Rust Belt):  Como Aprendi a Parar de me Preocupar e a Amar o Nordeste de Ohio

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Foto: Mudança no número total de trabalhos em manufatura em áreas metropolitanas, 1954-2002. Vermelho escuro representa a maior perda de empregos. Akron é vermelho escuro.

Go to sleep, Captain Future, in your lair of art deco

(Vá dormir, Capitão Futuro, em sua toca de art decô)

You were our pioneer of progress, but tomorrow’s been postponed

(Tu foste nosso pioneiro no progresso, mas o amanhã foi adiado)

Go to sleep, Captain Future, let corrosion close your eyes

(Vá dormir, Capitão Futuro, deixe a corrosão fechar seus olhos)
If the board should vote to restore hope, we’ll pass along the lie

(Se o conselho deve votar por reestabelecer a fé, vamos seguir com a mentira)

-The Secret Sound of the NSA, Captain Future

O Som Secreto da NSA, Capitão Futuro.

 

Jason Segedy – www.newgeography.com
Tradução Livre – Lúcio Mello

 

No Início…

Ao que me lembre, o termo Rust Belt (Cinturão da Ferrugem)  foi criado em algum lugar dos meados dos anos 1980. Isto parece ser certo.

Já eu surgi um pouco mais cedo, em 1972 no Hospital St. Thomas, em Akron, Ohio, Capital Mundial da Borracha [link]. Minha primeira a memória é de um dia, em algum momento do verão de 1975, em que meus pais, meu irmãozinho bebê e eu fomos acampar no Lago Milton, logo a oeste de Youngstown. Eu tinha três anos. Deste dia, e não sei por quê, entre todas as coisas que eu poderia me lembrar, mas não consigo, lembro-me desta. Mas este pode ser um bom começo.

A memória é tão viva que eu ainda me lembro de olhar as placas verdes da estrada West Expressway, em Akron. Algumas das sinalizações estavam a quilômetros, ou melhor, a milhas, como me lembro de uma malfadada tentativa de converter os norte-americanos ao sistema  métrico nos anos 1970.  Eu me lembro do cheiro forte e pesado da borracha saindo das chaminés da B.F. Goodrich e Firestone. Me vem a lembrança de perguntar a minha mãe sobre isso e de ela me explicar sobre  estas eram fábricas de pneus, sobre a borracha e a composição química deste material. Eram produtos feitos por pessoas trabalhadoras, pessoas boas – pessoas como o meu tio Jim – mas vamos voltar a este assunto logo.

Quando eu era um pouco mais velho eu teria aprendido que este era o cheiro de bons empregos; duros e perigosos empregos; e tudo mais sobre o modo que a vida que construiu a versão moderna desta peculiar e corajosa cidade. Este foi o cheiro que fez Akron triplicar de população entre 1910  e 1920, transformando-a de uma sonolenta antiga cidade a beira do canal Ohio e Eire [link:  https://en.wikipedia.org/wiki/Ohio_and_Erie_Canal] para a 32ª maior cidade dos EUA. É um cheiro marcado pela melancolia, ambiguidade e nostalgia- pelo que foi o cheiro de uma era que rapidamente veio ao seu fim  (embora eu fosse muito pequeno para ter consciência destes fatos na época). Era o cheiro também, às vezes, de tragédia.

Nós paramos na casa dos meus avós em Firestone Park, no caminho para o acampamento. Ainda me lembro de minha avó me dar uma caixa de biscoitos de bichinhos para a viagem. Ela sempre fora gentil e generosa.

Quem eram meus avôs? Meus avôs eram Akron. É simples assim. A história deles era a história de Akon. Meu avô, George Segedy, nasce em 1916 em Banesboro, uma pequena cidade mineradora na Pensilvânia Ocidental, em algum lugar entre Johnstown , Dubois e o nada. Seu pai, um mineiro do carvão, veio emigrado da Hungria nove anos antes. Minha avó, Helen Szabo, nasceu em Barberton, em 1920. Barberton era tida como a cidade mais industrializada per-capita dos EUA, em algum momento daqueles tempos. Sempre foram ambos trabalhadores industriais durante toda a vida deles (não acho que eles chamavam trabalho de “emprego”, naquela época) Meu avô trabalhou na Companhia Firestone de Pneus & Borrachas.  Minha avó trabalhou na Editora Saalfield, uma empresa que já foi uma das maiores produtoras de livros  infantis, jogos e quebra-cabeças do mundo. Hoje, os dois galpões onde eles trabalharam fazem parte de uma paisagem lunar abandonada e pós apocalíptica no Sul de Akron situado exatamente entre a West Expressway e a perdição. A Prefeitura de Akron tem planos de revitalizar esta antiga zona industrial. É necessário que seja feito, mas há  fantasmas ali…

“Meu nome é Ozimândias, e sou Rei dos Reis:
Desesperai, ó Grandes, vendo as minhas obras!”
Nada subsiste ali. Em torno à derrocada
Da ruína colossal, areia ilimitada
Se estende ao longe, rasa, nua, abandonada.
-Percy Bysshe Shelley, Ozymandias

 

A casa dos meus avós exemplificava o que era viver como parte da classe trabalhadora  de Akorn  no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980. O fluxo de lembranças que tenho daquela casa inclui; muitos cigarros e cinzeiros; programas infantis televisivos; Programa de auditório televisivos; tomates frescos e pimentas; séries televisivas ; ídolos do baseball e partidas memoráveis do Cleveland Indians, ouvidas no rádio na varanda da frente da casa; colchas de tricô; canais de TV, latinhas geladas de Coca-Cola, marcas de cervejas que já não há; bilhetes de loteria, frango com galuska, (massa de ovo farinha e sal típica da Hungria); Um chão de garagem que você podia beijar de tão limpo; um Chrysler com 14 anos e 40 mil mil quilômetros rodados, cuidado meticulosamente; uma geladeira na sala de jantar grande demais para caber na cozinha; pegar vagalumes no vidro; e tudo indo bem com o mundo.

 

Eu sempre associo o aconchego familiar daquele bangalô de dois quartos com a onipresença do cigarro e da tv ligada. Recordo de estar sentado ali em 18 de maio de 1980. Era meu aniversário de oito anos. Estávamos vendo TV, assistindo ao jornal que falava da erupção do vulcão Saint Helen, no estado de Washington. Lembro de falar que o ano 2000  (o futuro!) estava chegando em 20 anos. Era uma conversa esquisita para um menino de oito anos ter com adultos (planejando já o futuro e uma vida sem amigos, aparentemente). Lembro de pensar sobre o fato de que eu teria 28 anos e como tão longínquo parecia estar aquele futuro. As coisas parecem ser tão permanentes quando se tem oito anos e o tempo se move tão lentamente.

Mais vezes sim que não, quando visitávamos os meus avós, meu tio Jim e tia Helen estavam por lá. Tio Jim nasceu em 1936 em West Virginia. A sua família também veio para Akron para achar trabalho que fosse melhor remunerado, mais estável e (relativamente) menos perigoso que trabalhar nas minas de carvão. Tio Jim era um trabalhador da borracha, primeiro na Mohawk Borrachas e depois na B.F. Goodrich. Tio Jim também cortava o cabelo na melhor barbearia de West Virginia na rua South Arlington na parte leste da cidade. Ele era uma das pessoas mais gentis, corretas que eu já conheci.

Me lembro de perguntar uma vez a minha mãe por que tio Jim nunca lavava as mãos. Ela zangou comigo, me explicando que ele lavava sim, mas por fabricar pneus suas mãos estavam manchadas com fuligem que não sairia por mais que se escovasse as mãos. Mais tarde eu aprenderia que demoram cerca de seis meses para saírem de seus poros uma vez que você para de trabalhar.

Tio Jim morreu em 1983 de acidente industrial trabalhando na B.F. Goodrich. Ele tinha apenas 47 anos. A fábrica estava para fechar no ano seguinte.

Foi um evento trágico inimaginável em uma época traumática para Akron. Foi o fim de uma era.

 

Os Tempos Mudam

Minha amiga Della Rucker recentemente escreveu um ótimo post intitulado “A Filha Mais Velha do Cinturão da Ferrugem”  em seu blog, o Wise Economy (Economia Sábia). A leitura me trouxe todas estas velhas lembranças e me fez pensar sobre infância, sobre este lugar que eu amo e sobre a experiência de crescer em uma era econômica que está em seu fim.

 

Era isto de que se tratava o final dos anos 1970 e início dos 1980: o fim de alguma coisa e o começo de algo diferente (ainda a ser definido). Eu não sabia disso na época, mas era porque eu era apenas uma criança.

Em retrospecto era óbvio: a decadência; a deterioração; a decomposição; o lento início, seguido de “tão-rápido-quanto -um piscar” do desenrolar de uma máquina industrial que foi dado corda rápido demais. A máquina trabalha até quebrar; e então substituída por uma nova e mais eficaz – uma metáfora perfeitamente irônica para uma sociedade industrial que matou a galinha dos óvos de ouro.

 

Era uma máquina feita de sindicatos, administradores, e custos irrecuperáveis, cadeias de fornecimento, preços de mercadorias e globalização. Com a ressalva que não era na verdade uma máquina . Eram só pessoas. E pessoas não são máquinas. Quando são tratadas como tal e são descartadas como obsoletas, há consequências.

Se podia ouvir na música: da batida decadente, em busca de algo (a se escapar)  da Disco, aos (primeiros) niilista e (depois) fatalista som do Punk e Pós Punk. Não é coincidência que uma banda chamada Devo [link] veio de Akron, Ohio. De-evolution: A ideia de que, ao invés de evoluir a humanidade na verdade regrediu, como evidenciado pelo comportamento de manada e disfuncionalidade da sociedade  norte-americana. [link] . Tudo soava como Akron no final dos anos 1970. Ainda ressoa um pouco como o Cinturão da Ferrugem hoje.

Como adulto, reavaliando a experiência de crescer naquele tempo, você percebe quanto isto molda sua forma de pensar e ver a vida. É ainda mais marcante quando você se dá conta o “fim-de-uma-era” nunca é um “fim” de fato, mas é a transição para algo diferente. Mas o quê, exatamente?
O fim daquela época, que foi marcada por greves, demissões e desemprego, foram seguidos por seu ressoar e repercussões: deslocamentos econômicos, imigração, pobreza, e abandono; assim como o maior detrito psicológico – as dores do membro  fantasma após a amputação; a vertiginosa sensação de ver alguém (ou algo) morrer.

 

Percebi então que cada plano

É uma pequena prece para o “pai tempo”

Enquanto eu encarava meus sapatos na UTI

Que cheirava a mijo e 409

Me atingiu como um vento violento, que nossas memórias dependem

De uma câmera defeituosa em nossas mentes

Porque não existe conforto na sala de espera

Apenas passos nervosos esperando por más notícias

E então a enfermeira aparece e todos erguem a cabeça

Mas eu estou pensando sobre o que Sarah disse

Que amor é assistir alguém morrer

-Death Cab For Cutie, What Sarah Said

 

Mas é tanto nossa tragédia quanto nossa glória que a vida segue adiante.

Della levantou muitas destas questões em sua postagem: nosso relacionamentos ambivalentes de nossa geração com o Sonho Americano (como Della eu sinto o mesmo gosto ruim de ferrugem em minha boca toda vez que escrevo ou pronuncio esta expressão; nossa descrença em organizações e instituições; e nossa compreensão de que é preciso seguir em frente, lutar e sobreviver, a despeito disso tudo. Ela falou sobre como chegamos a esta era da perda: Não perda como destruição massiva, mas perda como algo insidioso, profundo  e penetrante. Tão verdadeira e tão incompreendida. Uma das pessoas comentando em seu blog disse, basicamente, que é perigoso romancear sobre uma “época de ouro”, que todas as gerações lutam e que a vida é dura.

Sim, tudo isto é verdade. Mas elas são completamente irrelevante para o assunto aqui.

Existe uma grande distância e variações entre  uma “época de ouro” e uma “luta existencial”. O tempo e o local sobre o qual ambos escrevem (final dos 1970 até hoje, no Cinturão da Ferrugem) não é nenhum deles. Mas é sem dúvida tempo de transição profunda. É um grande desvelar econômico e estamos tentando entender, coletivamente e individualmente , como atravessá-la,sobreviver a ela e, no fim das contas construir algo melhor a partir dela.

A História é cíclica. A despeito de como  norte-americanos possam estar apaixonados pela ideia, ela não é linear. Não é também uma longa, lenta marcha em direção à utopia, nem ao esquecimento. Quando eu vejo a história, eu vejo períodos de relativa (e é totalmente relativo, esta face do paraíso) paz, prosperidade e estabilidade; e outros períodos de conflitos, turbulência econômica, incerteza e instabilidade. Nós realmente passamos de um período para o outro , começando em 1970 e continuando até o presente.

O que normalmente se esquece é que quando se pronuncia frases como “a vida é dura para todas as gerações” e que nenhuma destas discussões sobre o Cinturão da Ferrugem – onde  ele se deu e onde ele vai – não tem nada a ver com uma época de ouro”. Mas tem tudo a ver com o fato de que este período de transição foi uma era (como todas as eras) que significou bastante (pelo bem ou pelo mal)para pessoas que a viveram. Esses períodos as ajudou a se tornarem quem são e  ajudou a fazer o lugar em que vivem o que é hoje.

Para estes que foram crianças naquele época em que o grande desvelar começou (pessoas como eu e como Della) trata-se parcialmente da narrativa que fomos levados a crer socialmente desde muito novos, mas sim de como esta narrativa se tornou um sopro de fumaça. Em 1997 eu podia sentir cheiro de borracha no ar, e muitos membros de minha família e amigos trabalharam em fábricas de borracha. Em 1982 o último pneu de carros de passeio foi construído em Akron. Desde 1984 90% destes trabalhos se foram muitas das pessoas se foram para outras cidades, e tudo o mais era uma memória que se perdia. Assim como acontece quando alguém morre muitos pessoas reagem com um misto de silêncio, constrangimento e negação. Como uma criança, especificamente, você constrói uma identidade baseada no lugar em que você vive. Toda a identidade que eu construí, mesmo quando uma criança pequena, como um orgulhoso Akronita era: Esta é CAPITAL MUNDIAL DA BORRACHA; aqui é onde fazemos muitas e muitas coisas úteis para pessoas em todo o mundo; aqui é onde americanos de verdade  trabalham de verdade; aqui é de onde pessoas da Europa, do Sul e Appalachia (região dos Montes Apalaches, notória pela pobreza- nota do tradutor) vem para construir uma vida melhor para si. Pois bem, todo esse discurso foi arrancado.

Eu não podia acreditar em nenhumas destas coisas mais porque elas não eram mais verdadeiras e eu sabia. Eu podia ver com meus próprios olhos. Talvez algumas delas nunca foram verdade desde o início, mas crianças não vivem uma mentira do mesmo modo que adultos fazem. Quando o lugar que você pensava em que vivia se transforma no lugar que não é o que você vive, pode ser algo duro e desorientador. Pode até ser desolador.

 

Somos as crianças da meia história, cara. Sem propósito ou lugar. Não temos uma Grande Guerra. Nem Grande Depressão. A nossa grande guerra é uma guerra espiritual. Nossa grande depressão são nossas vidas.

Tyler Durden, Clube da Luta

 

Eu gosto desta citação acima. Eu gostava mais ainda quando tinha 28 anos. O tempo e a compreensão de que a vida é curta e que você, a final deve participar e fazer algo além de analisá-la como um observador externo diminuiu o poder dela consideravelmente. Permanece como a citação quintessencial da Geração X. Certamente se encaixa em tudo isso. Mas, novamente talvez não deveria.

Eu uso a expressão “Órfão do Cinturão da Ferrugem” no título desta postagem porque esta é a experiência ao se chegar a um período de grandes incertezas econômicas, que nos faz sentir de forma visceral. Mas é uma combinação perigosa e contraproducente quando se junta as questões da Geração X.

De muitas maneiras o Cinturão da Ferrugem é a “Geração X” das regiões – o lugar que simplesmente não parece se encaixar; o lugar que muitos gostariam de rapidamente se esquecer o lugar que se não te instiga a conhecer sua própria existência ou necessidade, mal percebe as caras de desconforto e desdém dos de fora, porque já se sujeitou as próprias dúvidas e auto-aversão do próprio lugar.

 

A fake chinese rubber plant

(uma  planta artificial chinesa de borracha)
In the fake plastic earth
(na terra artificial de plástico)
That she bought from a rubber man
(Que ela comprou de um homem de borracha)
In a town full of rubber plans
(Numa cidade cheia de planos de borracha)
To get rid of itself
(Para se livrar de si mesma)
-Radiohead, Fake Plastic Trees

Toda a Geração X se confundindo ao olhar-para-o-selvagem-Cinturão da Ferrugem é uma prevalência palpável,  mas raramente se dá conta de parte de nossa cultura regional.

É mais fácil pra este montão de negatividade degenerar em um pântano viscoso de alienação e anomia. Mas pouco se obtém indo mais além desta rua sem saída.

 

 

Para qual Futuro?

A palavra grega para volta é “nostos”. “Algos, significa sofrimento. Portanto “nostalgia” é o sofrimento causado por um desejo de retorno não satisfeito.

– Milan Kundera, Ignorância.

E onde isto nos leva?

 

Primeiro, como região, eu acho que devemos encarar com seriedade sobre fazer as pazes com o passado e seguir adiante. Já começamos a fazê-lo em Akron, e, se estórias e evidências anedotais podem ser confiáveis, estamos provavelmente à frente da região como um todo.

Mas o que “fazer as pazes” e “seguir adiante” realmente significam? Em várias formas eu acho que a nossa região passou por um período de luto coletivo por boa parte das últimas quatro décadas.

Nostalgia e angústia a respeito das coisas que se perderam (um pouco de nossa identidade, prosperidade e proeminência nacional) são parte do processo de luto. A melhor saída é sempre superar.

Mas devemos fazer luto , mas não ao ponto de chafurdar nesta experiência ao ponto de se recusar em seguir adiante, mas para que possamos entender melhor quem somos e de onde viemos. Enfrentando e conhecendo estas questões, permite-nos  a final fazer este lugares que amamos melhor.

Nós estadunidenses normalmente não somos bons e sentimos confortáveis com luto e tristeza. Há um ideia típica dos EUA que sofrimento é sinônimo de “seguir adiante” ou (ainda pior) que “seguir em frente”  seja sinônimo de “superando isto”.

Sentimos-nos  confortáveis com aquela linha clara, arrumada, reta e apontando para o futuro (e a um mais próspero, progressivo e esclarecido futuro que sempre será, no século dos séculos, amém).

Não estamos tão confortáveis com este confuso ciclo histórico de evolução e involução, de criação, destruição e reinvenção. Mas este é o mundo como o percebemos. E este é o único em que devemos viver. Está longe da perfeição. Gostaria de ter outro para lhes oferecer. Mas não há outro no Além. Por todas as tribulações e julgamentos, o mundo em que habitamos tem uma vantagem inestimável: é inequivocamente real.

“Seguir em frente” significa recusar a ficar paralisado pelo passado; vivendo nossas responsabilidades presentes; e empenhando-se cada dia para ser o tipo de pessoa que são melhores  em ajudar os outros.

Mas “seguir em frente” não significa que nos esquecemos do passado , que fingimos que não sentimos o que sentimos ou que criamos uma realidade alternativa para evitar jogarmos com as cartas que temos à mão.

Segundo, eu não acho que podemos, ou devemos “superar”o Cinturão da Ferrugem. A simples expressão “superar” opera em negação, com o “wishful thinking” e o estranhamento de si em relação a suas raízes.

Incontáveis tentativas de “superar” o Cinturão da Ferrugem resultaram em inumeráveis projetos de desenvolvimento econômico  com visões de curto prazo do tipo “fique rico rápido”, com esquemas pirâmides público-privadas das quais descobrimos serem tão caras, ineficazes e sem gosto.

Não precisamos ser (e não podemos, mesmo que queiramos) algo que não somos. Mas nós temos que se o melhor lugar que podemos. Isto pode significar que somos menores, lugares relativamente menos proeminentes. Mas também significa que podemos ser um lugar melhor conectado, mais coeso, mais coerente e equitativo. As únicas pessoas que podem nos impedir de nos tornarmos este lugar somos nós mesmos.

Para um lugar que tem sido queimado de forma tão negativa pelas vicissitudes da economia global, pelo Grande Negócio e pela Grande Indústria parecemos sempre estar tão prontamente preparados para depositar nossa fé no Novo Grande Projeto, a Nova Grande Organização e o Próximo Grande Lance. Não estou certo se esta é a causa ou o efeito de nosso mal estar econômico atual, ou os dois. Qualquer que seja, precisamos parar com isso.

Isto quer dizer que devemos todos parar de sonhar ou fazer algo grande? Não, de forma alguma. Mas significa que devemos ser prudentes e sábios e que deveríamos dar preferência ao nosso desenvolvimento econômico e investimento público do que hyper-agilidade, hyper-escalonável  hiper-focado-em-vizinhos e ultra-diversificados. Ter fetichizado a famosa citação de Daniel Burnham “não faça pequenos planos” nos causou muitos danos. Às vezes “pequenos planos”  são exatamente o que precisamos, porque com frequência envolvem fundamentos, são fáceis de abrir mão e mais prontamente estabelecem confiança, inspiram fé e criam relações.

Os que como nós chegam durante a época de grandes incertezas econômicas e (ainda dolorosa) transição do Grande Cinturão Americano Manufatureiro para O Cinturão da Ferrugem  devem estar em melhor situado para compreender desafios e de achar soluções criativas necessárias para afrontá-los de frente.

Aqueles entre nós que permaneceram e ainda  vivem aqui, saibam de onde viemos. Sejamos livre de ilusões sobre quem somos e onde vivemos. Acho que Della Rucker estava trabalhando em algo interessante quando listou o que podemos pôr a mesa:

  • Determinação;
  • Foco a longo prazo;
  • Compreender a profundidade do poço e o longo caminho a escalar para sair dele;
  • Desenvoltura;
  • Habilidade para salvamentos;
  • Saber que não há respostas fáceis;
  • Não estar propenso em acreditar que tudo vai estar bem se fizermos esta Grande Jogada;

Quando olho para esta lista vejo pragmatismo, resiliência, autoconhecimento, habilidades de sobrevivência e liderança. E todas soam verdadeiras.

 

Ele quis se importar e não poderia se importar. Para ele tinha partido e não poderia nunca mais voltar. Os portões estavam fechados, o sol tinha se posto e não havia beleza, só a cinzenta beleza do aço que resiste pra sempre. Até mesmo a tristeza que ele poderia ter suportado foi deixada para trás na terra da ilusão, da juventude, da riqueza da vida, onde seus sonhos de invernos floresceram. “Há tempos atrás”, disse, “há tempos atrás, havia algo em mim, mas agora este algo se foi. Agora este algo se foi, este algo se foi. Não posso chorar. Não posso  

Me importar. Isto não voltará nunca mais”.

– F. Scott Fitzgerald, Sonhos de Inverno

 

Portanto, vamos fazer nossa elegia final para o Cinturão da Ferrugem. E depois,vamos voltar ao trabalho.  

 

Este artigo apareceu primeiramente em Notas do Submundo

 

Jason Segedy é Diretor de planejamento e Desenvolvimento Urbano da cidade de Akron, Ohio.

Segedy trabalho no campo do planejamento urbano nos últimos 22 anos e é um ávido escritos sobre planejamento urbano, questões do desenvolvimento e publica no Notas do Submundo.

Morador de toda vida da zona oeste de Akron, Jason está envolvido com a cidade, seu povo e suas vizinhanças. Sua paixão é  criar  ótimos lugares e espaços em que akronitas possam viver, trabalhar e se divertir.

Foto: Mudança no número total de trabalhos em manufatura em áreas metropolitanas, 1954-2002. Vermelho escuro representa a maior perda de empregos. Akron é vermelho escuro.

 

 

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